Assunto: :
Tênis ou Frescobol...
Enviado por:
jamfzeus@ig.com.br
12/9/2004
Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as
palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer
carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo..."
Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, 'eu te amo' não quer dizer
mais nada." É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua
nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia
Prado: "Erótica é a alma". O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é
derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi
incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele
vai dirigir sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo
sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se
encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais
continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo.
Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma
bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a
bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior
esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro
possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado.
Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro
erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol,
é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter
acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E
o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas
não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém
marca pontos... A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras.
Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá... Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser
preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O
bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão
do outro voem livres.
Bola vai, bola vem - cresce o amor...Ninguém ganha para que os dois ganhem.
E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo
nunca tenha fim...
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